O colunista Renato Bernhoeft reflete sobre a ansiedade atual das pessoas para 'darem conta de tudo'
Os avanços da sociedade que vivemos, especialmente desde a transição do século XX para o XXI, estão cada vez mais oferecendo alternativas de recursos, temas, equipamentos, informações, distrações e tantos outros meios que demandam nossa atenção.
Isto fica mais evidente ainda quando percebemos que muitas pessoas não conseguem concentrar-se, e ficam com sua atenção distribuída em vários assuntos ou demandas.
E esse dilema tem sido fonte de muitos conflitos, tanto no trabalho como nas relações pessoais. Reconhecido como falta de ‘foco’.
Muitas pessoas se consideram capazes de atuar de forma a atender, simultaneamente, um conjunto disperso de assuntos e pessoas. Ou seja, se julgam com a capacidade de se tornarem indivíduos ‘multitarefas’.
Estudos recentes tem demonstrado o risco que esta situação apresenta para a qualidade de vida.
A ideia nesta crônica é de apenas alertar para alguns pontos que tem sido possível observar em nossas condutas, especialmente nos dias atuais.
Um primeiro aspecto diz respeito à forma como lidamos com as dimensões do tempo. Didaticamente dividido, entre Passado/Presente e Futuro, o estabelecimento de objetivos e prioridades tem tornado a relação com o tempo um fator de ansiedade para muitos.
Está evidente que o nosso presente é fortemente influenciado pelos eventos do passado. E não é apenas uma questão de considerar o passado como algo que pode ser esquecido ou não afetar o nosso presente.
E, curiosamente, para muitas pessoas, também as fortes preocupações com o futuro contaminam a qualidade de vida do seu presente.
Vale refletir um pouco sobre a forma como administramos nosso presente. Especialmente ao considerarmos a etapa de vida que estamos vivendo, bem como os diferentes papéis que assumimos.
Ou seja, o profissional, conjugal, familiar, social, recreacional, individual, educacional, etc.
Tem sido bastante comum encontrar pessoas que tem uma baixa noção das suas próprias expectativas e objetivos, na medida em que estão muito mais preocupadas em atender as demandas dos outros. Ou seja, levam uma vida muito mais orientada em atender as expectativas de terceiros do que suas próprias. Numa sociedade de consumo, com alto grau de exposição, como a que estamos vivendo, isto tem sido bastante comum.
Segundo a especialista em desenvolvimento humano, Déborah Aquino, “a desconexão com o momento presente afeta a carreira, prejudicando o pensamento criativo e o foco na solução e no surgimento de novas ideias. Nas relações com amigos e familiares, são grandes as possibilidades de que elas sejam superficiais e distantes”.
Prossegue ela dizendo que “a solução está em fazer uma coisa por vez. Se você vai comer ‘só’ coma. Nada de celular ou qualquer outra atividade com a comida. Se vai brincar com seu filho, ‘só’ brinque. Sem falar no telefone, sem conversar com outra pessoa. Viver de forma consciente significa trazer presença para tudo o que vamos fazer.”
Fica evidente a dificuldade de viver o ‘aqui e agora’, sem se deixar dividir atenção e preocupações com outros assuntos, pessoas ou preocupações.
Evidente que num universo cada vez mais repleto de tecnologia, temas e demandas, adotar uma conduta como esta exige ter uma disciplina e fixar prioridades.
Mas vale tentar. Fica o alerta.
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