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Envelhecer bem exige projeto de vida

Renato Bernhoeft escreve sobre a importância de se planejar e encontrar novos propósitos conforme a idade avança

Um dos temas que vem caracterizando o século XXI, como um novo desafio e tendência a se ampliar a cada novo ano, é o aumento significativo dos índices de longevidade, acompanhado da redução da natalidade. E não apenas no Brasil, mas no mundo todo.


As abordagens envolvem diferentes áreas do comportamento humano, inclusive o surgimento de preconceitos contra os idosos, como o etarismo – expressão nova que ainda não foi incluída nos dicionários - e a gradativa receptividade desta população no meio social.


O tema tem sido tratado nas mais diferentes mídias com abordagens que vão desde questões que envolvem cuidados com a saúde, previdência social, comportamental, finanças, cuidados físicos, cuidadores, novos produtos e serviços no mercado e estruturas familiares, além do próprio tema da aposentadoria.


É interessante observar que, da mesma forma como um adolescente enfrenta o questionamento familiar sobre “o que você vai ser quando crescer?”, já se aplica aos que estão na meia-idade interrogações sobre “o que você vai ser quando envelhecer?”.


A nossa experiência em lidar com o tema, na perspectiva do preparo de executivos para o que chamamos de “pós-carreira”, tem demonstrado que todo o nosso processo educacional, seja na estrutura da educação formal, ou no âmbito das famílias, está fortemente focado no preparo para o mundo do trabalho, onde o desfrute surge como algo que vamos adiar para quando nos aposentarmos ou chegarmos à velhice. Ou seja, estamos totalmente despreparados para o ócio, e mais ainda para encontrar um novo sentido e propósito para encarar esta etapa da vida.


Para aqueles que se dedicaram a construir e deram prioridade ao vínculo corporativo, é possível perceber o impacto causado pela perda do “sobrenome corporativo”, identidade que é muito valorizada em nossa sociedade. Ou seja, virar um “ex”, é mais desafiador do que ser um “vice”, já que “ex” não tem retorno.


Em artigo recente, "Ser velho quando não se é”, publicado pelo Valor, o sociólogo José de Souza Martins afirma que “não é de agora que, no Brasil, velhice não é uma categoria etária, mas uma categoria econômica. Por isso, os seres humanos não devem ser definidos por sua humanidade, mas por sua lucratividade. É o ser humano como matéria-prima da linha de produção.”


Segundo ele, nós não somos apenas identificados por nossa idade biológica, mas muito mais pela idade social.


Outro artigo, de André Bernardo, publicado no caderno “Metrópole”, do “Estadão”, leva o título insinuante “Aposentar-se pode ser bom ou ruim para a saúde. A questão é como se planejar”.


Enfim, esta crônica se propõe a alertar para a importância do tema e, especialmente, aqueles que estão num momento intermediário de vida, sobre o quanto o assunto deve fazer parte do preparo para esta etapa. Esse é um tema mais do que individual e deve ser discutido pela estrutura familiar. Vá em frente.


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