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Cuidar das raízes para ter bons frutos


Nas famílias empresárias, o propósito e os valores dos fundadores se traduzem em práticas, e esse pode ser um imenso diferencial competitivo.


Globalmente empresas de todos os portes buscam definir seu propósito, e comunicar valores, que conectem pessoas e negócios. As famílias empresárias são representantes dessa prática, desde sua origem, e parecem promover quase que naturalmente a manifestação genuína do vínculo, de colaboradores e clientes, um grande diferencial competitivo.


E como conseguem isso? Todo negócio nasce do sonho de um empreendedor, baseado em seus ideais. Na maioria das vezes os valores e o propósito, não estão descritos ou formalizados, mas são mentalmente muito bem definidos e verbalizados de maneira enfática. Viver o propósito e os valores, praticá-los cotidianamente, dar exemplos; isto faz com que se tornem parte da cultura e se difundam por todas as relações. Guiando uma transformação persistente e silenciosa os fundadores criam laços que sustentam uma forma de ser e de viver, uma corrente que segue seus passos.


“Uma família empresária tem uma história que envolve e, com isso, gera um senso de pertencimento mais naturalmente do que uma empresa não-familiar”, avalia Tereza Bandiera, sócia-diretora da Inove Soluções em Liderança. “Esse é um dos motivos pelos quais existe uma transição maior de executivos e colaboradores em companhias não-familiares”, explica.


Quando existe essa relação entre o DNA da família empresária e as ações da empresa, os valores e o propósito ganham força entre os colaboradores. Além disso, os próprios membros da família se beneficiam desse alinhamento, já que passam a ter uma

visão de futuro mais forte. “Nesse aspecto, a relação afetiva é muito positiva, pois traz uma ligação que vai além do cargo ou das responsabilidades individuais e das metas. Existe um caminho de crescimento e aprendizagem que é coletivo e reforça a experiência de todo o grupo”, analisa a especialista.


A FORÇA DA ÁRVORE ESTÁ NAS RAÍZES

Os aspectos visíveis de um negócio, podem representar a manifestação do propósito e dos valores, mas se eles não forem preservados por uma estrutura podem se tornar apenas palavras fortes, ao longo do tempo. Parte do desafio é cuidar da governança da família empresária, envolvendo todos os públicos e os temas de família, patrimônio e empresa.


Ao fundar seu próprio negócio, os sócios Manchon e Martins sempre demonstraram preocupação com as fronteiras entre família e empresa. “Antes de abrir nossa empresa, trabalhamos por 15 anos e nos tornamos sócios de um negócio. Por uma questão de falta de governança, essa empresa acabou tendo problemas e desapareceu. Essa experiência deixou claro para mim que, independente do controle familiar, a governança é que determina o rumo do sucesso”, afirma Antonio Carlos Martins, um dos fundadores da Rommanel, uma das principais redes do varejo de joias do país.


Essa lição foi levada para toda a vida, estava claro para Martins e seu sócio Antonio Carlos Manchon, falecido em 2019, que a competitividade da Rommanel só seria possível se equilibrassem muita competência ao atuar na empresa e a preservação de suas raízes. “No início, trabalhamos isso de uma forma desestruturada, mesmo tendo 3 representantes da segunda geração no negócio. Só mais tarde é que isso começou a se formalizar”, afirma Martins.


Em 2015, buscando preparar a empresa para o futuro, os sócios começaram a estruturar a governança familiar. “Hoje, vejo que esse movimento foi muito importante, porque as duas famílias já trabalhavam questões de sucessão e como desenvolver um bom alinhamento familiar, sem que questões pessoais interferissem no negócio ou que a empresa fosse um peso para as pessoas”, lembra.


Hoje, o diferencial da consistência de valores da família empresária continua muito presente na Rommanel. “Ao mesmo tempo em que criamos vários fóruns para discutir adequadamente as questões de família, patrimônio e sociedade, temos muita transparência entre nós e comunicamos abertamente o que pensamos e o que vamos fazer”, diz Martins. Para ele, esse é um processo em eterna construção. “Temos no horizonte que a empresa traz o sustento de todos e que, se conseguirmos preservar a empresa das questões familiares e, ao mesmo tempo, transmitir o DNA de união e transparência das famílias para o negócio, continuaremos a construir o nosso sucesso”, completa.


E foi justamente a solidez desse entendimento entre as famílias que ajudou a superar a ausência de Manchon, um dos fundadores. Valores que sempre foram praticados e que estavam se perpetuando, manifestados agora pela segunda geração e pela equipe constituída ao longo de sua gestão, reafirmaram a confiança e o compromisso em construir o futuro. “Sentimos até hoje a falta do Manchon, e muito, mas a empresa conseguiu continuar pois estava sólida, com estruturas muito bem construídas”, acredita.


Há uma forte conexão entre a história da família e do negócio. “Quando os colaboradores querem ajudar a construir a história de uma empresa, eles permanecem por mais tempo e se dedicam mais, reafirma Tereza. Tudo isso está ligado a valores e propósito, que têm sido mais valorizados pelas novas gerações. “É um aspecto que vem naturalmente nas famílias empresárias e que facilita a formação de marcas fortes”, diz.


Na opinião da especialista, outro grande diferencial estratégico de uma família empresária é o cuidado. “O que acontece na empresa impacta a reputação do sobrenome da família, e isso é muito poderoso, já que leva os sócios, executivos e colaboradores a agir com base no fato de que carregam essa responsabilidade extra”, diz.



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