Com toda a energia para crescer, família empresária Moura avança na transição para a terceira geração com modelo de governança próprio.
A separação entre família, sociedade e gestão é bem clara no dia a dia da família Moura, mas para chegar a esse ponto foi preciso percorrer um caminho longo. O negócio principal, de baterias, foi criado pelo fundador Edson Mororó Moura e por sua esposa Conceição, em 1957, na cidade de Belo Jardim (PE), onde até hoje está a sede do Grupo. Da segunda geração, passaram a fazer parte da gestão três filhos e um genro dos fundadores.
Pela evolução da governança, a terceira geração integra a sociedade e se faz presente na gestão por meio do Conselho de Administração e outros fóruns de Governança. “Viemos, nos últimos 25 anos, cuidando dessa mudança de papel da família, de gestora para acionista. Um passo por vez, sempre com cuidado”, conta Sergio Moura, copresidente do Conselho de Administração do Grupo Moura. Sergio lidera o CA ao lado de seu cunhado Paulo Sales, uma dobradinha que vem dando certo há muito tempo: em 2009, o falecimento do patriarca trouxe o inicio da transformação na estrutura corporativa. O irmão mais velho, Edson, saiu da gestão do negócio e assumiu a presidência do Conselho de Administração, enquanto Sergio e Paulo passaram a dividir a presidência executiva do Grupo.
“Eu e o Sergio somos totalmente diferentes, apesar de sermos ambos engenheiros mecânicos. Temos visões complementares do negócio, eu com um olhar mais financeiro e ele focado na operação”, conta Paulo Sales. “Essa visão complementar sempre funcionou, pois quando estamos juntos, vemos a empresa como um todo”, acrescenta.
Na visão de Sergio, a copresidência executiva funcionou não apenas pelos perfis complementares, mas também pela presença do irmão mais velho no Conselho de Administração. “Quando tinha algum conflito, sempre tinha alguém para desempatar”, comenta. E funcionou muito bem, já que a empresa cresceu muito nesta última década.
Futuro com modernidade
A grande quebra de paradigma sobre a presença familiar no Grupo aconteceu na segunda geração. “Tivemos uma preocupação grande de não ampliar a família na empresa, pois vimos muitos exemplos de insucessos. Foi muito difícil, mas tomamos a decisão, uns 20 anos atrás, de não deixar a terceira geração entrar na gestão”, conta Paulo. “Entendemos desde cedo a fragilidade que teríamos no futuro se não tivéssemos uma governança bem formatada”, acrescenta.
As regras então estabelecidas foram bastante rigorosas: além de ter formação teórica e prática para atuar na empresa, o membro da terceira geração precisa ser aprovado de forma unânime. “Achávamos que nós quatro já éramos familiares demais e que com a chegada da terceira geração, que são 14 membros, a empresa ficaria ingovernável”, declara Paulo.
Outra regra criada na mesma época foi a saída dos profissionais da gestão da empresa aos 65 anos. “Isso prevaleceu para acionistas, diretores e gestores da empresa, tanto que eu completei a idade em janeiro de 2020 e fui para o Conselho de Administração”, afirma Paulo.
No início de 2020, Paulo e Sergio subiram para o Conselho de Administração como copresidentes. Edson passou a liderar o Conselho de Acionistas. “Continuamos tendo um chefe”, brinca Sergio. “Só que agora eu e o Paulo vamos aprender a resolver diretamente qualquer diferença que tivermos”, afirma.
O modelo de gestão do Grupo Moura, entretanto, ainda não conta com um CEO. Com quatro diretores-gerais de negócios e três diretores corporativos, o Grupo conta com lideranças em cada uma das áreas principais de gestão.
Um caminho óbvio seria promover algum dos atuais diretores à liderança executiva, mas esse passo não está nos planos imediatos. “Nosso mandato no Conselho de Administração é de dois anos, renováveis por outros dois. Por enquanto, imaginamos manter a atual estrutura por esse tempo, o que vai dar tempo para amadurecer a governança
do Grupo”, justifica Sergio.
Ao mesmo tempo, o Conselho de Administração conta com mecanismos para dar suporte à futura transição. Membros da terceira geração estão em processo de desenvolvimento que vem sendo construído de forma robusta e consistente. “Há cerca de 10 anos eles participam ativamente em papeis na Governança Corporativa da empresa”, comenta.
Sergio concorda que esse modelo não é comum. “Ele tem muito a ver com nossa cultura”, analisa. “Temos uma cultura muito forte que favorece o desenvolvimento e o consequente reconhecimento e encarreiramento dos profissionais que já integram nossa organização. “Temos o nosso jeito de formar pessoas e gerir nosso negócio, com indicadores e busca constante por performance e KPI’s”, afirma Paulo Sales. “Acreditamos em termos processos fortes para que a empresa não precise de líderes ‘salvadores da Pátria’ e possa crescer de forma sustentada”, completa.
Acionistas representados
Com a gradual saída da segunda geração da gestão e a presença da terceira geração no Conselho de Administração e de Acionistas, o caminho para as futuras gerações vai sendo pavimentado, mantendo as particularidades da família empresária. O patriarca Edson, alguns anos antes de falecer, doou, junto com a esposa, suas ações diretamente para os netos. Com isso, os 14 netos têm, conjuntamente, quase 20% do grupo e um representante no Conselho de Acionistas, que também conta com um representante de cada bloco familiar. “Em 2019, nos dedicamos à transição dos copresidentes ao Conselho de Administração e seus possíveis desdobramentos”, avalia Sergio.
A quarta geração começará a entrar nas discussões no final da década. “Terminamos de
encaminhar as questões da terceira geração, inclusive com um programa de desenvolvimento individual para cada integrante. No futuro, será a vez da quarta geração, mas não está na pauta imediata. É algo que daqui a quatro ou cinco anos passará a ser mais importante”, conclui.
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