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Inovação nas famílias empresárias

Para o consultor Guido Corbetta, famílias empresárias crescem em um ambiente com características bem definidas – e o caminho para a perpetuidade passa pelas novas gerações.



Em todo o mundo, as famílias empresárias são um motor do empreendedorismo. É natural que pequenos negócios comecem a partir do esforço individual e outros membros da família abracem essa causa, mas, muitas vezes, esse início humilde leva à criação de gigantes que mantêm o espírito do fundador. Em poucos lugares do mundo isso é tão presente quanto na Itália.


“Hoje, 65% das empresas italianas com faturamento acima de 20 milhões de euros por ano são famílias empresárias, e 40% das mil maiores empresas do país têm essa estrutura”, conta Guido Corbetta, professor de administração da Università Bocconi, de Milão, e consultor especializado em famílias empresárias. Entre essas companhias estão nomes muito conhecidos do público brasileiro, como Fiat, Ferrari, Benetton, Essilor e Ferrero.


Em boa parte da Europa, é possível encontrar um percentual de cerca de 40% de famílias empresárias entre os maiores negócios de cada país. Uma grande exceção é o Reino Unido, em que esse índice cai para cerca de 20%. Então existe um “jeito europeu de desenvolver negócios”? Para Corbetta, o ecossistema de negócios de boa parte da Europa abre oportunidades para famílias empresárias, uma vez que existe uma forte influência cultural. “Em culturas em que a família é vista como um valor importante a ser preservado, as famílias empresárias costumam encontrar mais oportunidades de crescimento, uma vez que ter uma família como controladora de um negócio é visto como positivo. Além disso, felizmente passamos por mais de 70 anos sem conflitos na região, e essa estabilidade é muito importante para que as famílias empresárias se desenvolvam”, explica.


Somando a cultura, a estabilidade política e a solidez de instituições financeiras que estimulam o crescimento das famílias empresárias e uma história que favoreceu a evolução desses grupos, tem-se uma espécie de receita de sucesso que pode ser seguida em qualquer lugar do mundo. “O Brasil tem muitas características como essas. Claro que o sistema político é bem mais turbulento, mas os demais fatores estão presentes. Vejo o mercado brasileiro como um lugar muito positivo para desenvolver famílias empresárias”, comenta o consultor.


DESAFIOS E OPORTUNIDADES

Há mais de 30 anos, quando iniciou suas pesquisas acadêmicas, Corbetta vivia em um ambiente bem mais frágil para as famílias empresárias: não havia um entendimento tão grande da dinâmica e das fortalezas dos negócios desenvolvidos pelas famílias e as questões de governança não eram muito trabalhadas. “Os problemas mais sérios dos negócios familiares não estão relacionados ao ambiente externo, e sim às próprias famílias. A gestão da empresa é importante, mas se não houver uma boa gestão do ambiente interno das famílias e dos sócios, o negócio não prospera”, explica.


Para ele, a governança corporativa é importante, mas a governança familiar e societária é essencial. “Gerenciar as transições geracionais, por exemplo, é bastante complexo, pois costuma fazer com que toda a família tenha de se ajustar a um novo sistema, em que não existe mais o fundador, que era o centro de tudo. Quando as decisões passam a ser tomadas em conjunto, mudam as responsabilidades, e nem sempre os novos sócios e familiares conseguem se adaptar”, analisa Corbetta.


Essa necessidade de ajustes de rota também pode limitar o potencial inovador das famílias empresárias. “Entre as grandes empresas inovadoras, em qualquer lugar do mundo, é mais difícil encontrarmos famílias empresárias, em parte pela estrutura de capital necessária, mas em grande parte porque inovações radicais são mais difíceis de realizar em um ambiente em que existe uma forte preocupação com o legado”, afirma o consultor.


O que não significa que não exista inovação, mas ela costuma ser do tipo incremental, que leva a melhorias em processos e sistemas. “De forma geral, a força das famílias empresárias está no desenvolvimento de inovações relacionadas aos seus processos de produção. São negócios que crescem em ambientes mais estáveis”, avalia.


Segundo Corbetta, nas famílias empresárias o caminho de uma inovação mais disruptiva costuma ser traçado pelas gerações mais novas. “Quando o negócio principal está estruturado e consolidado e as gerações mais novas têm a oportunidade de empreender em projetos paralelos, seja em private equity ou negócios menores dentro do grupo, aí é possível encontrar casos de inovação mais radical”, comenta. Na opinião do consultor, esse é um bônus que as famílias empresárias deveriam aproveitar. “Se há jovens dispostos a desenvolver novos caminhos, a família empresária deveria incentivar que eles explorem essas oportunidades. É o que abrirá novas avenidas de crescimento no longo prazo”, completa.


matéria publicada na Revista Gerações 2023 | https://www.hoft.com/revistas



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