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QUAL É O SEGREDO DAS EMPRESAS CENTENÁRIAS

Fundador da höft consultoria, Renato Bernhoeft revelou aspectos que levaram cinco empresas familiares brasileiras a ultrapassarem os cem anos. Os casos de sucesso foram tema de seu livro.

Existe um significativo conjunto de empresas familiares nacionais, que ultrapassaram os cem anos e já contribuíram para a economia brasileira, bem como a projeção do país no mercado mundial. O tema levou Renato Bernhoeft, fundador e presidente do Conselho de sócios da höft consultoria, a trabalhar em seu 16º livro, publicado em 2011.

Bernhoeft lançou “Empresas Brasileiras Centenárias – A história de sucesso de empresas familiares”, que registra as histórias e os pontos em comum para o sucesso de cinco empresas familiares: Casa da Boia, Cedro Cachoeira, Gerdau, SulAmerica e Ypióca (*). A seguir Bernhoeft detalha sua visão sobre os fatores que permitiram a essas empresas ultrapassarem a barreira de um século de existência.

Revista Gerações – Em seu livro, o senhor falou sobre a contribuição das empresas familiares para a economia brasileira. De que maneira elas contribuíram para os resultados e a projeção do país no mercado mundial? Renato Bernhoeft – As empresas brasileiras, incluindo as familiares, estão comprometidas e contribuem com a economia do país: geram empregos, pagam impostos e mantêm uma série de programas sociais, entre outras coisas. Elas provam que é possível sobreviver mesmo em um país com muitas crises e instabilidade, principalmente porque têm processos decisórios muito mais rápidos. Além disso, muitas delas são pioneiras na questão de internacionalização. Não apenas exportam produtos, mas têm unidades no exterior e levam o nome do país para o mundo. A Gerdau, com unidades no exterior; a SulAmerica, com associações com grupos financeiros europeus; e a Ypióca, com as exportações de seus produtos, são bons exemplos disso. As outras duas empresas analisadas no livro, a Casa da Boia e a Cedro Cachoeira, traduziram a agilidade da gestão em empresas familiares bem-sucedidas.

RG – Em quais aspectos foram baseadas as análises dessas empresas? RB – Qualquer análise de empresa familiar deve levar em conta a existência de três sistemas: Família, Patrimônio e Empresa. Eles são interdependentes e por isso devem ser tratados com o mesmo grau de importância. Nos cinco casos, este tratamento ocorreram de forma bastante equilibrada, resultando no que podemos caracterizar como um processo de profissionalização mais abrangente.

RG – O sistema Família refere-se ao relacionamento entre sócios? Quanto ele pode influenciar o sucesso de uma empresa familiar? RB – O sistema Família se refere ao conjunto de fatores que caracterizam a família empresária nas suas mais distintas relações e vínculos de parentesco. Aqui as questões emocionais são muito presentes e podem criar ressentimentos, disputas de poder, desconsiderações da individualidade etc. Sabe-se que boa parte das dificuldades em um processo de continuidade tem como causa a tentativa de criar um modelo de harmonia imposta, em que os conflitos são negados.

RG – De que forma o sistema Patrimônio estabelece o vínculo entre as gerações? Como o sistema Patrimônio cria o vínculo societário entre as gerações seguintes (irmãos, primos etc.), surge uma dinâmica muito mais regulada por um sistema legal, além de exigir um processo decisório que envolve riscos no equilíbrio entre a capitalização das empresas e a liquidez requerida, ou desejada, pelos sócios e acionistas. Para completar, a cada geração, esta participação societária se dilui, pulverizando o número de acionistas. Isso exige modelos de liderança, estrutura de governo e composições acionárias entre sócios. Neste sistema, o erro mais comum tem sido o despreparo dos herdeiros para o papel de acionistas.

RG – E qual a relevância do sistema Empresa? RB – Este sistema é o que apresenta as características com maior lógica. Exige estruturas claras de poder, hierarquia e visão estratégica. De maneira geral, as abordagens de governança corporativa têm se preocupado apenas em criar o Conselho de Administração. E isso tem sido motivo para muitos fracassos no encaminhamento e continuidade da empresa familiar.

RG – Seu livro registrou histórias de empresas familiares centenárias distintas. Com base nos três sistemas, quais os pontos em comum que teriam levado essas empresas ao sucesso? RB – Acho que foram três os pontos mais importantes. O primeiro é que elas apresentaram e continuaram desenvolvendo a visão de longo prazo de seus fundadores e herdeiros. Isso sem dúvida permitiu assegurar que ultrapassassem a barreira dos cem anos sob o controle do mesmo grupo. E esta continuidade se manteve tanto nas que abriram o seu capital, como nas que admitiram novos sócios como investidores. O segundo aspecto é que todas elas mantiveram o foco nos negócios de origem, sem diversificar atividades em diferentes segmentos. Finalmente, todas possuíram programas e atividades que formaram seus herdeiros para o papel de acionistas e membros de uma família empresária.

(*) Até a data de publicação do livro, a Ypióca era uma empresa controlada pela Família Telles. Em maio de 2012, foi comprada pelo grupo britânico de bebidas Diageo, produtor do uísque Johnnie Walker e da vodka Smirnoff.



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