O alerta vem de um país do outro lado do mundo. E a manchete é muito evidente:
“A CHINA ENVELHECE E ABANDONA A POLÍTICA DO FILHO ÚNICO”.
Lançada no início dos anos 70 pelo governo chinês, a política do filho único se caracterizou por comportamentos de temor pelas punições que envolvia, mas também por uma forte adesão de muitos casais que sentiam a dificuldade para manter e educar filhos numa sociedade muito dependente do Estado.
A decisão, do governo chinês, de abolir tal política, foi tomada no primeiro dia de janeiro de 2016. Portanto, uma medida ainda muito recente, cujos efeitos devem ser aguardados para melhor avaliação.
Mas, ainda assim alguns analistas estão prevendo que o comportamento, e a prudência de boa parte dos casais não deverá sofrer qualquer alteração no curto prazo.
Interessante observar que nenhum outro país bem sucedido, do Leste da Ásia, impôs uma política de um só filho, mas mesmo assim suas taxas de fertilidade têm sido muito inferiores ao nível de reposição.
Como exemplos desses índices, vale registrar que o Japão tem uma taxa de 1,48 filho por mulher; Coréia do Sul, 1,32 e Taiwan, de 1,22. Também nos países do norte da Europa estas medidas já vêm sendo adotadas desde o pós-guerra.
Como consequência de todo este processo surgiu nos países do norte da Europa o fenômeno chamado de geração 4-2-1 – quatro avós, dois pais e um filho neto.
Sem falar na grande quantidade de casais, que impactados pelas tragédias das duas grandes guerras, resolveram não ter filhos. Ou seja, justificavam esta atitude tendo em vista o volume de jovens que perdeu a vida neste período.
Enfim, devemos registrar que esta conduta também começa a ganhar força no Brasil. E várias são as possíveis causas.
O ingresso das mulheres no mercado de trabalho; os custos para a educação dos filhos; a forte dedicação à construir uma carreira em detrimento do tempo disponível para os filhos; o maior acesso aos meios eletrônicos e sua consequente sedução, ou “conforto” para os pais; entre tantos outros, levaram a muitos casais a optar por um filho.
Ao considerarmos neste contexto o aumento da longevidade, temos novos desafios.
E vale destacar:
-A convivência, simultânea, de três gerações;
-A pretensão de muitos idosos que ainda tentam conservar a cultura de que serão, e devem, ser cuidados pelos filhos;
- As novas exigências das políticas previdenciárias, sejam elas pública ou privada;
- Idosos que não se prepararam para um envelhecimento saudável e autônomo;
- Profundas e velozes mudanças dos modelos de estrutura familiar.
Enfim, a lista poderia prosseguir bem mais ampliada.
Mas a proposta deste artigo é provocar em todas as gerações um alerta para que não adiem os cuidados e ações relacionadas a este tema.
E, menos ainda, atribuam essas responsabilidades aos seus descendentes.
É um compromisso indelegável.
Artigo publicado em:
valor.globo.com/opiniao/renato-bernhoeft/ | 04/03/2022
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