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CONSELHO DE FAMÍLIA: MODO DE USAR

Instituir esse fórum, tão bem-vindo à governança, é um desafio

Por Renata Bernhoeft e Mônica Spadini


Criar órgãos de governança é uma pratica que percebemos cada vez mais presente no mundo dos negócios. No contexto das empresas familiares, a estruturação demanda considerar a família e o patrimônio, além dos negócios. Assim, surge com força cada vez maior um novo fórum: o Conselho de Família. Decidir instituir um Conselho de Família é um desafio de longo prazo, portanto, merece ser melhor compreendido, para que seja sustentável e realmente agregue valor, algo tão bem-vindo à governança.

O primeiro passo é compreender as razões pelas quais a família necessita deste órgão, debater estrategicamente seu papel e a relevância para a continuidade. O que afinal faria um bom Conselho de Família? O que pode ser discutido por este grupo? Uma importante constatação é justamente estabelecer uma fronteira ao tratar de questões familiares e patrimoniais, que, de outra forma, poderiam se misturar à gestão dos negócios. Mas sua função não se esgota na definição de como serão os encontros da família ou as regras para a entrada das novas gerações; envolve principalmente o desenvolvimento do capital humano e intelectual da família empresária – algo fundamental e que está na base de sustentação do planejamento da continuidade.

O segundo aspecto relevante é definir a composição ideal de um Conselho de Família. O ideal é ter um grupo que seja representativo da diversidade e promova o envolvimento dos distintos núcleos, gerações e papéis familiares. Algumas famílias trabalham com a premissa de voluntários, ou indicados pelos núcleos, mas o ideal é que haja envolvimento por parte de todos os subgrupos familiares. Um erro relativamente comum é um Conselho de Família deixado a cargo apenas de quem nunca esteve envolvido diretamente no dia a dia da sociedade ou da empresa, por imaginar-se que irá tratar de temas não tão relevantes quanto a gestão dos negócios.

O terceiro ponto importante a ser desenvolvido é o formalismo, ter uma governança familiar com profissionalismo e levada a sério. Não basta, portanto, apenas circular uma ata para que todos assinem ou ter aquela conversa rápida no intervalo entre reuniões, durante uma comemoração ou encontro familiar. As reuniões devem ser ocasiões legítimas para o gerenciamento do capital humano e do patrimônio, sempre levando em consideração a cultura afetiva do grupo. É nesse ambiente que entra o gerenciamento de conflitos, expectativas, crescimento, ética, conduta, legado e formação.

Dizemos, ainda, que a principal missão do Conselho de Família é promover e garantir o planejamento da continuidade, colocando em prática suas diversas atribuições, algumas das quais elencamos abaixo. É preciso ter a clareza de que estas precisam ser atribuídas a um fórum correto e não serem repassadas como responsabilidades da gestão ou da governança corporativa:

1. Identificar e preservar o propósito, os valores, a visão que devem guiar a família empresária

2. Elaborar, administrar, atualizar e manter vivo o Código de Ética da Família Empresária, inclusive fornecendo as diretrizes para um código de ética empresarial

3. Manter a disciplina familiar em relação aos negócios, ser um fórum de interação e comunicação com todos os familiares

4. Criar e monitorar o fórum da nova geração e o escritório da família

5. Dar apoio e monitorar o desenvolvimento de carreira dos familiares, investindo na formação profissional e pessoal dos jovens herdeiros de forma complementar à orientação da família

6. Criar e administrar programas de treinamento para o exercício do papel de sócio. Identificar também a maneira mais adequada de formar sócios leais e responsáveis.

7. Desenvolver um sistema formal de divulgação de informações sobre a sociedade e os negócios

8. Administrar as atividades de responsabilidade social e filantrópicas da família empresária

9. Planejar e coordenar assembleias e reuniões familiares

10. Ser o guardião da memória e registro da trajetória da família empresária, garantindo sua transferência entre as gerações. Essa também é uma maneira de homenagear os familiares que, durante os anos, contribuíram para essa história

11. Discutir e definir o modelo societário e a estruturação jurídica, assim como planejar o processo de sucessão patrimonial e societária

12. Ser o órgão representativo da família em sua relação com os Conselhos de Administração e societário e vice-versa.


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