Nesta sexta, 15 de maio, comemora-se o Dia Internacional da Família. A data foi instituída pela Assembleia Geral da ONU em setembro de 1993 para lembrar a importância da presença da instituição familiar na formação da educação, cultura, moral e ética das pessoas. Para celebrar a data, compartilhamos uma entrevista com a terapeuta de família Dra Tai Castilho. Nesta entrevista, ela fala sobre a fratria: o vínculo mais duradouro de origem familiar, que é a relação entre irmãos, que nos prepara para as parcerias ao longo da vida.
UNIÃO FRATERNAL
Terapeuta familiar aborda os diversos aspectos relacionados à fratria, que corresponde à longa e complexa relação entre irmãos
A literatura psicológica está repleta de estudos sobre a complexidade dos relacionamentos fraternos, considerados os mais longos na vida de qualquer pessoa. É por meio desse dinâmico e duradouro vínculo, afinal, que uma criança aprende a se relacionar com seus pares, administrar sua agressividade e descobrir a cumplicidade. “Com os irmãos, as crianças passam a entender melhor o significado da cooperação, da negociação, da competição e do apoio”, diz Tai Castilho, terapeuta familiar e mestre em Psicologia Social. “Além da confiança e da lealdade, o processo de desenvolvimento inclui ciúme, disputas e rivalidades.” As experiências compartilhadas entre irmãos biológicos ou com laços socioafetivos, segundo a especialista, ajudam a moldar a história de quem nós somos e de quem nós nos tornamos. Na entrevista a seguir, ela explica de que maneira a família pode contribuir para tornar esse tipo de relação o mai amigável e positiva possível.
ABAIXO O CONTROLE! Para a especialista, a relação entre irmãos tem muito da influência dos pais que, via de regra, desejam filhos unidos e companheiros. Para isso, entretanto, é imprescindível evitar o controle excessivo, deixando-os livres para desenvolverem uma relação de cumplicidade e independência.
ZONA DE INTERFERÊNCIA É fundamental que os pais não se envolvam demais na gestão das relações entre irmãos. Quando as crianças são muito novas, é claro que os pais precisam intervir na resolução de conflitos, ajudando os filhos a experimentar situações diversas. Mas, à medida que eles vão crescendo, é preciso ir se afastando para que aprendam a resolver seus próprios problemas.
NEGOCIAR É PRECISO É importante os filhos compreenderem que a resolução de conflitos implica etapas. Primeiro, é preciso identificar o problema. Segundo, dar espaço para o outro falar. E, por fim, encontrar soluções e escolher juntos a melhor maneira de resolver eventuais impasses. É bom lembrar que o senso de justiça e os limites, capazes de estabelecer um diálogo e uma negociação positiva entre os irmãos, é função dos pais.
CADA UM, CADA UM
Não há fórmulas prontas para a boa convivência fraterna, mas há caminhos que levam a uma relação duradoura, sem competições ou desentendimentos constantes. Os irmãos precisam ter a consciência de que cada um tem seu espaço dentro da mesma família, cada qual com seu perfil e suas qualidades, e que não é preciso ser parecido ou igual ao outro para se destacar e fazer diferença.
SINTONIA FINA A família precisa estar sintonizada e extremamente atenta aos mecanismos de cada membro da prole para construir relações bem-sucedidas. Ao notar que um filho está competindo com outro, ou com ciúme, cabe aos pais instituir um diálogo aberto, a fim de eliminar confrontos e comparações, reforçando o senso de justiça.
COMPETIÇÃO ENTRE IGUAIS Outro ponto enfatizado por Tai é que, de maneira inconsciente, não raro os pais acabam incentivando a competição entre os filhos. Quando um vai mal na escola, por exemplo, isso é ressaltado com grande veemência. Se o outro vai bem, idem. Eis um terreno fértil para uma relação divergente, baseada no ciúme e na rivalidade. Nesse caso específico, é comum que um dos filhos comece a se colocar no lugar de vítima, a fim de chamar a atenção. Outro erro comum é atribuir responsabilidade excessiva ao filho mais velho ou tratá-lo como se fosse confidente.
RELAÇÃO SOCIETÁRIA No que se refere às empresas familiares, as relações societárias preveem altos níveis de cumplicidade, cooperação e confiança. Ao nos darmos conta de nossas características e peculiaridades, poderemos lidar de forma positiva com nossas qualidades e nossos defeitos. Nesse âmbito, é preciso ter habilidades de negociar com “iguais” e, para tanto, nada melhor do que a convivência entre irmãos.
HERDEIROS FRATERNOS Brigas em família por propriedades, cargos e até herança, infelizmente, são notícias comuns – e nada edificantes. Por isso, quando uma relação envolve bens materiais, a preparação dos envolvidos para receber um patrimônio e saber dividilo é fundamental. E, de forma ainda mais sólida, a união, o companheirismo, a cooperação e as diferenças precisam ser respeitadas e trabalhadas no âmbito familiar. Nesse caso, redobram-se os cuidados da família no sentido de orientar e não alimentar divergências, ajudando cada filho a encontrar suas habilidades e respeitar a limitação do outro. A tarefa não é fácil, mas necessária para que os irmãos possam construir juntos uma relação cada vez mais estreita e saudável.
AJUDA EXTRA
Se, apesar dos esforços, os embates entre os irmãos se agravarem e/ou perpetuarem a ponto de prejudicar os negócios e a dinâmica dos negócios, Tai aconselha a ajuda profissional. Assim como acontece com casais em crise, em geral uma das partes (no caso, um dos irmãos) deve tomar a iniciativa de procurar o auxílio de um mediador. “Costumamos ouvir cada uma das partes separadamente, depois as pessoas juntas e, dependendo do caso, convocamos terceiros envolvidos para participar do processo”, explica Tai.
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