Criar filhos não é fácil. Há várias teorias, muitas personalidades a contemplar e os resultados aparecem de forma diferente em cada um deles. Os pais de nossa geração têm muitas expectativas, sonhos e projeções sobre o futuro de seus filhos e, com isso, tentam criar oportunidades, desenvolver potenciais, proteger e dar condições melhores que aquelas que tiveram.
Em uma família empresária o comportamento deve ser diferente? Certamente há algumas expectativas a mais já que, além de filhos, precisamos formar bons sócios. E ser um bom sócio inclui, principalmente, pensar no coletivo acima da individualidade. Eles irão lidar com diferentes gerações, pensamentos, ambições e, em meio a isso tudo, contribuir na construção do futuro de uma entidade maior do que si mesmos.
Um bom sócio precisará ser, antes de mais nada, um empreendedor o que, no século XXI, significa reunir as atitudes e habilidades necessárias para viver em um mundo em constante mudança. E ser empreendedor requer vontade, paixão e um propósito maior, além de ambição, necessidade de criar e de saber pensar em alternativas inovadoras. Como pais, queremos que nossos filhos tenham o melhor, mas devemos tomar cuidado com a zona de conforto que criamos e que, às vezes, se torna uma redoma que inibe o progresso.
Se quisermos que eles vibrem com os desafios e sintam a vitória de seus esforços, temos que permitir desafios e frustrações na infância. Se desejarmos que eles tenham coragem para sair da zona de conforto e buscar os desafios que vão lhes ajudar a crescer, precisamos criar espaço para que isso aconteça. A base da preparação está nos limites respeitados, nas responsabilidades cobradas, na torcida para que os desafios sejam enfrentados, no estímulo ao ânimo para superarem e muito amor.
Mas como estimular atitudes que desenvolvem as competências necessárias e os potenciais de nossos filhos? Atualmente discute-se que o que deve ser estimulado é a resiliência, habilidade de, ao fracassar, levantar-se e tentar de novo, acreditando em si mesmo e tendo a coragem de superar falhas, frustrações e decepções. Isso pode ajudar mais do que ser protegido. A base para a construção da resiliência é saber que você pode falhar e continuar a ser amado e que você vai aprender tanto com os erros quanto com os acertos.
Uma forma de fazer isso é exercitar a autoconfiança de nossos filhos. Sim, ela pode ser cultivada. Carol Dweck, em seu livro “Mindset: A nova psicologia do sucesso” encoraja os pais a admirar e apreciar esforços e escolhas que resultam no crescimento e aprendizagem de seus filhos, como quando o filho tenta várias vezes e altera estratégias para conquistar um desafio. É como falar com um bebê aprendendo a andar “cuidado nas escadas, deixa eu te ensinar a descer com cuidado”. Isso mostra que os obstáculos são reais e não serão removidos pelos pais; e que ele pode e vai aprender a superar os desafios. Falar “fique longe das escadas; você vai cair” ensina a não se arriscar e que é melhor depender do outro. As mensagens são diferentes e fazem toda a diferença.
O mesmo se dá com o dinheiro. Os pais trabalharam e construíram uma vida ao longo de muitos anos. Os filhos, por sua vez, vão construir a sua vida e o padrão do qual eles começarão pode estimular sua jornada com ambições e novidades. A forma como eles vão encarar suas vidas, aspirações e desafios depende em boa parte das nossas escolhas, atitudes e diálogos ao longo da infância e juventude deles. Depende dos limites colocados e das responsabilidades cobradas.
O ditado “a família cresce mais rápido que a empresa” é real, e pressupõe que os filhos vão viver potencialmente com menos dividendos do que seus pais. Estatisticamente, as empresas familiares têm dificuldade para continuar sendo relevantes depois de 10 ou 20 anos e normalmente desaparecem na terceira geração. As facilidades que o dinheiro proporciona no presente podem ser uma grande armadilha para a formação das pessoas necessárias para continuar o legado de uma empresa, que precisará se refundar várias vezes ao longo de seu caminho.
Por tudo isso, para formar a próxima geração, devemos pensar nas pequenas escolhas com as quais podemos ensiná-los. Não se trata apenas de dizer não. Mas sim criar alternativas e estimulá-los a buscar seu próprio caminho. Não é fácil, mas também não é impossível.
SARA HUGHES, é educadora, membro da Família Trecenti e membro do Conselho de Administração do Grupo Lwart
Comments