Uma família empresária será mais bem-sucedida e perene na mesma medida em que os indivíduos que pertencem a ela sentirem-se realizados, produtivos e capazes de escolher seus caminhos.
Tornar-se uma família empresária é um projeto comum. Um coletivo forte se constrói com individualidades fortes, independentemente de suas escolhas, trabalhando e produzindo, dentro ou fora da empresa da família. Para isso é fundamental que cada membro da família encontre seu valor.
As histórias, compartilhadas na editoria projeto de vida, buscam ampliar os horizontes, inspirando a realização pessoal!
Boa leitura!
INSPIRE, EXPIRE. E VIVA MELHOR
Já ouviu falar em mindfulness? A técnica, que ajuda a desenvolver a atenção plena nas ações diárias, se tornou um negócio para Moira Malzoni, da 3ª geração da família à frente da Usina Santa Fé
Inspire. Expire. Relaxe os ombros e os braços. Feche os olhos e se concentre em sua respiração. Para Moira Malzoni, meditar não é apenas uma técnica para acalmar a mente ou ter mais concentração, mas também um negócio. Desde 2015, ela é sócia fundadora da empresa Moved by Mindfulness, que trabalha com facilitação, consultoria e treinamentos para o público geral e empresas. “É um treinamento que nos estimula a desenvolver a atenção plena nas ações diárias. É algo que nos ajuda a fazer escolhas mais conscientes e a sair do piloto automático”, conta. No universo empresarial, meditar é cada vez mais celebrado e, volta e meia, algum executivo declara que a prática faz parte de seu cotidiano. Para citar alguns exemplos, Steve Jobs, fundador da Apple, era adepto da meditação. O Google, o LinkedIn, a gestora de fundos BlackRock e o banco Goldman Sachs estão entre as companhias que aderiram ao mindfulness. Fora do universo corporativo, instituições de saúde também estão interessadas no tema; a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) coordena um instituto de saúde mental que também se volta à prática. Para Moira, o mindfulness chegou como uma etapa a mais da meditação (que ela praticava desde 2012) e se firmou como uma carreira, desenvolvida à parte do meio empresarial a que pertence. Ela é membro da 3ª geração da família empresária Malzoni, que desde a década de 1970 comanda a Usina Santa Fé, em Nova Europa, interior de São Paulo. A entrada da família no negócio se deu quando Roberto Malzoni (já falecido) adquiriu 100% das cotas da Companhia Açucareira Itaquerê, renomeada como Usina Santa Fé. Hoje, a usina é uma agroindústria. Os planos de Moira nunca estiveram relacionados ao agronegócio. “Meus pais sempre me incentivaram a escolher uma carreira com a qual eu me identificasse, o que me levou ao cinema e aos filmes publicitários”, diz. Essa trilha, de alguma forma, encontrou a de seu pai, Roberto Malzoni Filho, que também teve uma trajetória contra a corrente: antes de assumir a liderança da usina, ele foi bem-sucedido no cinema. “Meu pai não é um CEO padrão, ele é habilidoso com as pessoas, diplomático. Uma característica que eu também ganhei”, diz Moira. Trilhando uma carreira bem-sucedida na publicidade, Moira viu uma necessidade cada vez maior de se voltar a seus valores. Com a vocação para a diplomacia herdada do pai e o cultivo de hábitos que valorizam de qualidade de vida foram características que a levaram a unir sua vida profissional ao mindfulness. “Eu era feliz com o cinema e os filmes publicitários, mas, ao mesmo tempo, era uma atividade que se chocava com alguns dos meus valores. Algumas vezes, eu vendia o que não consumia”, diz. Ficou sabendo que a UCLA (University of California) oferecia um curso na área e partiu para lá. Na volta ao Brasil, em 2015, ela começou a compartilhar seu trabalho como facilitadora e a realizar algumas sessões de meditação guiada. “Embora essa escolha tenha vindo do coração, minha organização fez com que a cabeça viesse junto. Por isso resolvi estudar e me especializar. Na sequência, comecei já a estruturar o site, que é a vitrine do meu negócio” diz. O aval do pai para atuar na área que desejasse não eliminou a desconfiança inicial com os rumos da atividade. “Meu lado ‘alternativo’ não foi sempre tão bem entendido. Mas hoje meu pai costuma me perguntar sobre a empresa, se interessa e entende melhor o que eu faço”, diz Moira. Um exercício comum nas oficinas de mindfulness é com uma uva passa. Trata-se de pegar a fruta e, antes de comê-la, observá-la em detalhes, perceber sua cor, sua textura. Depois, fazer o mesmo de olhos fechados e só depois mastigar com calma, sentindo o sabor da fruta antes de engoli-la. Em um mundo multitarefas, em que a atenção é disputada o tempo todo, o exercício de focar em algo tão singelo como uma uva passa é treino de concentração. “Sinto que o mindfulness propõe coisas simples, que é se observar, estar no aqui e agora. Mas ser simples não significa ser fácil de cumprir”, diz. Trabalhar pelo desenvolvimento humano tem muito a ver como mindfulness, acredita Moira. E nesse ponto ela percebe que seu trabalho não se descola tanto da empresa familiar. “O mindfulness é meu jeito de aproveitar meus dons e talentos. É como dou meu melhor. E quando a gente faz isso, contribui com o negócio, com a família, com os amigos”, diz. Moira também é voluntária no Instituto de Desenvolvimento Social Itaquerê, iniciativa da Usina Santa Fé com o intuito de oferecer cursos, encontros e atividades educativas para crianças de Nova Europa e cidades vizinhas. “Estamos em uma fase de mudanças e abertura no instituto, é algo que adoro fazer. O mindfulness não está como uma matéria lá, mas as coisas têm o seu tempo”, conta. Para sua empresa, os planos futuros incluem o lançamento de um livro sobre o tema e a inauguração de um espaço físico próprio – mesmo que as oficinas continuem sendo móveis, em locais diversos, como estúdios de ioga, in company (nas empresas) e espaços de eventos. Entre os clientes que já atendidos estão empresas Saraiva, Record, Conspiração Filmes, Ampfy, Okena e Bueno Netto. “As pessoas têm se perguntado mais sobre o que querem por que e para quem estão fazendo algo. Quando passamos a ter esses questionamentos, buscamos mais ferramentas de autoconhecimento, tentamos entender como nosso talento e criatividade são mais bem aproveitados. Acho que essa é uma tendência forte e o mindfulness tem tudo a ver com isso”, diz.
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