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Valença | UNIÃO CONSTRUÍDA TIJOLO POR TIJOLO

Família Valença supera questões familiares e já trabalha para envolver netos na sociedade

A história da família Valença é, acima de tudo, uma história de união. O falecimento de sua esposa fez com que o empreendedor Ivani Valença decidisse vender seus negócios para se dedicar a cuidar dos cinco filhos. No final dos anos 90, chegou a hora de voltar. A segunda geração, já sócia dele nos negócios e com voz desde o início.


Ivana, uma das filhas, sugeriu levar a varejista de móveis Tok&Stok para Brasília, onde moravam. Os donos da marca gostaram da ideia, com uma condição: que a loja fosse aberta em um shopping center. A família decidiu, então, construir o shopping! Em um terreno da família, nascia, em 2000, o CasaPark, primeiro centro de compras voltado a design e decoração da Capital Federal.


“No fundo, tivemos muita sorte, pois deu tudo muito certo mesmo começando sem conhecimento específico de shopping centers. Já começamos tocando um negócio enorme”, conta Maria Thereza (Tetê), a filha mais nova. Em 2005, quando o empreendimento passou por uma expansão, dobrou o número de lojas e passou a contar com salas de cinema, surgiu um grande desafio: a família havia vendido um prédio comercial para terminar a obra. O dinheiro foi colocado no Banco Santos e, três dias depois, o banco entrou em intervenção. “Foi quando vimos que havia uma grande falta de comunicação entre a gente, especialmente em assuntos muito sérios. Isso gerou brigas, discussões e uma falta de confiança que atrapalhou muito a relação familiar”, lembra Tetê.


Em uma dessas discussões, por sinal, a irmã do meio, Isabella, se indispôs com o pai e saiu da empresa. Se formou em arquitetura e permaneceria na sociedade, servindo hoje como uma voz externa em questões ligadas à sociedade. A situação entre os sócios só começou a ser definida em 2012. “Tínhamos muitas divergências. Achávamos que estávamos bem resolvidos, mas hoje vejo que era uma confusão”, diz.


A segunda geração assume o leme

Decidiram iniciar o diálogo societário, e várias frentes começaram a ser trabalhadas, criando uma prática coletiva. Em 2013, o filho mais velho, Ivan, tinha sido colocado em uma posição superior à dos irmãos na hierarquia, o que gerou desconforto para ele mesmo. Depois de debates sobre a continuidade da sociedade, foi instituído um Conselho da Família, um órgão de governança com reuniões semanais das quais todos participavam. Apesar do nome, o Conselho de Família teve um caráter tanto societário quanto de gestão. Um dos principais objetivos foi melhorar o diálogo, aprimorando a comunicação e formalização das decisões entre os irmãos.


O Conselho de Família foi uma grande evolução na governança, pois formalizou a tomada de decisões. Se até então muita coisa era concentrada nas mãos de Ivan, a partir daí as decisões passaram a ser tomadas por maioria.


Em uma ação que reflete a decisão de aparar arestas e pavimentar o sucesso futuro, os irmãos também se dispuseram a fazer uma terapia familiar. Logo as sessões se tornaram o espaço para equacionar os aspectos de relacionamento, o que ajudou a separar os temas da família dos temas da empresa.


Quando as discussões familiares foram resolvidas, o patriarca Ivani decidiu se afastar do dia a dia do negócio. “Hoje ele é comunicado das grandes decisões, mas nós é que tocamos a operação”, diz Tetê. Ela, depois de vender em 2016 o restaurante Tète a Tète, que ainda hoje está no shopping, ficou um ano na área comercial e hoje é diretora administrativo-financeira do CasaPark. O irmão mais velho, Ivan, é presidente e diretor comercial, enquanto Iran é superintendente, Ivana é a diretora de marketing, e Isabela, arquiteta, continua participando das reuniões como sócia.


A separação entre sociedade e família teve um novo capítulo em 2019, quando Ivani doou suas cotas na sociedade para os filhos, com a anuência de sua segunda esposa, Lucia. “Essa foi a cereja do bolo na questão sucessória, e ele fez porque achou importante fazer, sem desgaste. Hoje ele brinca que é o único que ficou sem nada”, conta Tetê.


O shopping que é uma família

Com as arestas aparadas, a família dedicou toda sua atenção ao CasaPark. E os próprios lojistas sentiram a diferença, especialmente nos momentos em que a economia brasileira parou de ventar a favor. Em 2018, um ano muito complicado para o varejo, com muitos lojistas em dificuldade e consumidores arredios, a administração do CasaPark realizou uma grande pesquisa para reforçar o direcionamento estratégico do shopping. “Vimos que os clientes gostavam do CasaPark como ele é hoje: um shopping de casa e decoração com entretenimento na medida certa, tranquilidade e gastronomia localizada nos restaurantes. Isso nos acalmou e ajudou no caminho para o futuro”, conta.


“Como o CasaPark é nosso negócio principal e estamos aqui todo dia, nossa relação com os lojistas é muito próxima. Eles também nos percebem muito presentes e veem que somos muito unidos. O feedback é super positivo, inclusive para o papai, quando passa por aqui”, diz Tetê.


E a nova geração?

A terceira geração terá desafios diferentes dos que seus pais enfrentaram, isso é certo. Apesar de ter a premissa, no passado, que os netos do fundador não fariam parte da gestão, já houve pelo menos uma abertura: Ana Carolina, filha de Ivana, com 29 anos, trabalha com a mãe no marketing do shopping. Na terceira geração são 15 netos, a maioria com mais de 18 anos, está chegando a hora de formalizar as regras de entrada na gestão e na governança, o que deve acontecer nos próximos anos.


Por enquanto, a decisão sobre a participação da terceira geração no dia a dia do negócio vem sendo feita de forma individual. “O Ivan diz que não gostaria que seu filho mais novo, hoje com 15 anos, trabalhe com a gente, enquanto as filhas mais velhas já definiram que não virão. Minhas crianças ainda são pequenas e terão mais de dez anos para ter idade de pensar no assunto. Os outros irmãos também não trabalham com a perspectivas de que os filhos venham para o shopping, mas pode ser que isso mude e, por isso, é um ponto que precisa ser definido com regras claras”, analisa Tetê.


Para a família Valença, o futuro ainda precisa ser escrito. “Falamos pouco de futuro hoje em dia, é verdade”, admite. O que se sabe, por enquanto, é que não existe interesse em abrir outro shopping ou desenvolver negócios paralelos. Até mesmo por estarem diretamente envolvidos na gestão, os irmãos pensam em como tornar o CasaPark ainda mais importante no varejo de Brasília (DF) nos próximos anos. “Temos vontade de colocar escolas e escritórios aqui no terreno, dando novas vocações e trazendo um novo público para nosso entorno. Mas sem pressa: temos uma localização ótima e um terreno excelente”, comenta Tetê.


O que é certo é que a união da família, mantida arduamente nas últimas duas décadas, é um valor a ser preservado com a nova geração. “Sempre estivemos muito juntos e queremos que nossos filhos cresçam com essa mesma orientação. Sabemos o quanto batalhamos para estar aqui e valorizamos muito o fato de sermos uma família empresária”, completa.



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