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O papel da governança invisível


“Meu lugar é nos bastidores” - Veridiana Gonzaga, da família empresária Gonzaga de Oliveira, da Frigol, mostra o papel da “governança invisível”


O relacionamento das novas gerações com o negócio familiar não é necessariamente automático – cada família empresária define o que funciona para sua estrutura, e isso ajuda a direcionar os caminhos de cada um de seus integrantes. Uma quebra de paradigma que envolve compreender que é possível contribuir para a perenidade da família empresária, mesmo sem atuar no ambiente executivo.


É o caso de Veridiana Gonzaga, membro da família empresária Gonzaga de Oliveira, proprietária da Frigol. Segunda filha de um dos cinco ramos da família, ela já sabia que não atuaria na empresa, uma vez que o antigo acordo, que os sócios entendiam como ideal, definia que apenas um filho de cada fundador entraria na gestão. “Isso sempre esteve muito claro e, por ser 3 anos mais nova que meu irmão, sempre soube que não faria parte da empresa, até porque a cultura era muito masculina. Cresci sem nem cogitar essa possibilidade”, afirma Veridiana.


A arquitetura chamou sua atenção desde criança. Com 9 ou 10 anos, ela adorava olhar as plantas de imóveis no jornalão de domingo. “Meu pai até deixava separado, era parte da rotina do fim de semana”, lembra. Desenhar sobre as plantas, fazendo “reformas imaginárias” e sonhando com sua família vivendo naqueles imóveis. “Quando descobri que isso era trabalho de uma arquiteta, resolvi que era o que queria fazer da vida”, afirma.


Sua decisão foi apoiada pela família. “A única preocupação era que eu fosse muito boa no que resolvesse fazer”, diz. Sem nenhuma referência, por não ter nenhum arquiteto ou engenheiro na família, Veridiana precisou romper barreiras. “Mudei de Lençóis Paulista, onde nasci, para São Paulo e vim desbravar o mundo com três primas”, conta. Todas vivendo o mesmo momento de transição.


Desde 2007 na área, atuou em vários escritórios de arquitetura e, em 2014, mesmo ano em que se casou, decidiu partir para uma carreira solo. “Era um bom momento para trabalhar por conta própria e fazer meus projetos da forma como acredito”, comenta. Desde então, trabalha com projetos de construção e reforma de residências.


Aos poucos, porém, ela começou a se envolver com o negócio da família. Mas não de uma forma tradicional. A família iniciou um processo orientado para a transição de gerações, o que envolveu compreender os objetivos dos sócios, atuais e futuros, e seus projetos de vida. “Nessa época, não estava claro que poderia atuar na sociedade familiar”, comenta.


No início de 2017, o projeto de transição de gerações ganhou novo impulso. A Frigol já contava com um Conselho de Administração e alguns fundadores tinham deixado suas funções executivas. Começou a ficar claro que era preciso estruturar melhor o ambiente para os temas de família e patrimônio – assim nasceu o Conselho Societário Familiar (CSF). “Foi quando começamos a entender a importância dos familiares que não atuavam na empresa, mas que entendiam o que era a sociedade e como se relacionar com toda a família. Ficou claro que todos precisaríamos nos preparar como sócios da família empresária”, afirma Veridiana.


O início se deu como um grupo de trabalho, que em 2020 se transformou em um CSF efetivo, contando com 2 integrantes de cada um dos 5 ramos familiares. Um período importante para Veridiana perceber a importância do trabalho nos bastidores. “Foi quando entendi que poderia fazer algo não só pelo meu núcleo familiar, mas também pela sociedade como um todo, ajudando a criar relações e preparar os sócios. Comecei a me identificar com esse processo e, nele, vivi um crescimento pessoal muito grande”.


UMA VISÃO DE QUEM ESTÁ DE FORA

Para Veridiana, o mais importante na atuação do CSF é que esse é um trabalho paralelo ao da gestão dos negócios, em que o grupo trabalha junto para chegar a um resultado. “Independente da carreira que cada um de nós tenha, o patrimônio da família continua sendo muito importante. É essencial para perpetuar.”, diz. Para ela, atuar somente na empresa não garante a perpetuidade – é preciso trabalhar nos bastidores para evitar desavenças e oscilações que possam impactar na empresa e na atuação de cada um de nós. “Ouço muito o que as pessoas têm a dizer, para entender a intenção de cada um e

compreender onde posso ser útil para o bem de todos nós. É um trabalho de formiguinha, em que caminhamos juntos e alcançamos um resultado comum. Essa é a grande riqueza”, acredita.


Ela diz que o fato de não conhecer a fundo o negócio familiar acabou se tornando um trunfo, pois complementa outro aspecto importante que é intermediar relações. Especialmente com seu pai. “Ele é o mais velho dentre os sócios irmãos, foi presidente da empresa, e presidente do Conselho de Administração, sempre foi uma figura muito forte de liderança, de sabedoria e inteligência na empresa. E justamente por ser um modelo de sucesso, encontra dificuldades com algumas situações novas. Como eu não entendo do negócio e tenho uma visão neutra, procuro contribuir de outras formas, consigo fazer uma mediação, criar pontes entre as pessoas. Esse é meu verdadeiro valor para a sociedade”.






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